sexta-feira, fevereiro 1

Gostar do bicho de cinco bocas não, apesar de parecer tão monstruoso quanto o que aparecia nos seus sonhos – aquele todo verde, enrolado na grama – ou seria a grama enrolada no verde?

Não chega ao menos a sentir o cheiro da cor que ilumina seus olhos e relaxa sua mente, ainda que ela esteja sempre – aparentemente – relaxada.

Talvez a coisa que a impede de pensar em muitas coisas ao mesmo tempo seja a mesma coisa que a faz lembrar daquela cor, não com o seu contraste, mas com seu brilho e distorção tonais, ainda assim formando uma única cor, com camadas que fogem das dimensões alcançadas pelos olhos, impossíveis de ver sem sentir.

Apesar disso, é a cor que todos já viram, ao menos uma vez, que ultrapassa o desconforto do verde da grama, ainda que por um curto tempo ou com uma intensidade insignificante ao consciente, mas que todos, ao fecharem os olhos, conseguem enxergar.

Não se trata do tom alaranjado de quando se está disposto sobre o sol, nem do tom incolor de quando não está sob as luzes.

É aquela cor simples, que não troca nunca de endereço e sempre retorna de onde veio, ainda que com algumas manchas e incertezas. A mesma cor que é omitida até para quem vê, e que esconde-se em elementos insensíveis e irreais, ou em bichos de cinco, sete, doze cabeças – e bocas.

Reter os bichos, as cores, os delírios dentro de si incomoda tanto quanto a grama dos seus sonhos e a mente vazia em quase todos os momentos. Superá-la ou transparecer a cor sob os seus efeitos não é uma das opções. Conviver com ela sim.

Um comentário:

Sah disse...

Conviver
é sempre a palavra que tentamos seguir
ou será q é ela que nos persegue?